O ex-governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), afirmou nesta segunda-feira (18) à juíza Selma Arruda, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, que foi extorquido e pagou R$ 700 mil a jornalistas e funcionários do Grupo Milas Comunicação para que os esquemas de corrupção que ocorriam dentro do governo dele não fossem divulgados. As declarações foram dadas durante ausiência de instrução do processo criminal derivado da Operação Liberdade de Extorsão, deflagrada em março de 2016.
Ao todo, seis pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Estadual (MPE): Antônio Carlos Milas de Oliveira (dono do Jornal Centro-Oeste Popular), Max Feitosa Millas (dono do Notícia Max), Maycon Feitosa Millas, Naedson Martins da Silva (editor-chefe do Brasil Notícias, com sede em Brasília), Antônio Peres Pacheco e Haroldo Ribeiro de Assunção. Os três veículos de imprensa citados pertencem ao Grupo Milas Comunicação.
Apenas o advogado Eduardo Mahon, que representa o réu Antônio Milas, quis se pronunciar sobre o processo. Ele defende que o depoimento prestado por Silval é nulo porque a juíza Selma Arruda trouxe uma peça acusatória de outro processo para a ação de hoje, ou seja, ela estaria premeditadamente procurando provas para poder incriminar o seu cliente. Já a juíza Selma Arruda não quis se pronunciar sobre o caso.
Silval foi ouvido no Fórum de Cuiabá na condição de vítima. Ele afirmou que os jornalistas que são réus no processo o teriam extorquido para não divulgar esquemas de corrupção que vigoravam durante o governo dele.
A maior parte dos pagamentos, segundo Silval, teria sido feita com dinheiro de propinas de empresas que tinham contratos com o governo do estado. O ex-governador afirmou, ainda, que o ex-deputado estadual José Riva teria exercido "pressão decisiva" para que ele pagasse o que era cobrado pelos jornalistas. Por meio de nota, a defesa de Riva disse que ele "está prestando esclarecimentos irrestritos à Justiça e ao Ministério Público Federal" e que esse tema será esclarecido.
Na denúncia feita pelo MP, os réus Maycon, Max e Antônio Milas aparecem como os responsáveis pela abordagem e coação das vítimas. Eles apresentavam os documentos e, posteriormente, as vítimas "eram constrangidas a firmar contrato de aquisição de mídia ou ainda, efetuar pagamento de vantagem pecuniária a título de patrocínio para a empresa dos réus (Grupo Milas de Comunicação), sob a ameaça de divulgação das informações fiscais sigilosas nos veículos de comunicação pertencentes à família".
Já os réus Naedson Martins, Haroldo Assunção e Antônio Pacheco seriam os responsáveis por providenciarem o levantamento das informações necessárias para a prática da extorsão, bem como pela elaboração das matérias jornalísticas publicadas em desfavor das vítimas, "como forma de represália, por não cederem às ameaças realizadas pelos demais".