O advogado Levi Machado, um dos réus na quarta fase da “Operação Sodoma”, revelou, na tarde desta terça-feira (25), que o empresário Filinto Muller, delator da fraude apurada na ação penal, tem como objetivo de vida se tornar o homem mais rico do Estado. Machado afirmou que acredita que Muller ainda pode conquistar o objetivo, pois, segundo ele, o empresário agora também atua com contravenção.
A quarta fase da Sodoma apura esquema criminoso na desapropriação de uma área no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, durante a gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB). O Estado pagou R$ 31,7 milhões pelo terreno, que pertencia à empresa Santorini Empreendimentos Imobiliários, de propriedade de Antônio Rodrigues Carvalho, também delator da Sodoma. Levi Machado era advogado de Carvalho durante a transação.
Conforme o Ministério Público Estadual (MPE), metade do valor pago pela área teria retornado em forma de propina para a organização criminosa que era liderada pelo então governador.
Levi Machado é acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. As investigações apontaram que ele teria forjado o contrato para que a Santorini cedesse para a SF Assessoria, que pertence a Filinto Muller, metade do direito da área do Jardim Liberdade, pelo valor de R$ 700 mil. A fraude teria sido feita pelo jurista junto com o procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o "Chico Lima".
O MPE relatou que a SF Assessoria repassava o valor recebido para os membros da organização criminosa liderada por Silval, que teria recebido cerca de R$ 15 milhões, oriundos da transação. Do valor, cerca de R$ 474 mil, correspondente a 3% da propina entregue ao grupo, teria sido destinado a Levi Machado, como forma de comissão em razão da sua participação nas tratativas.
Na tarde desta terça-feira, depois de prestar depoimento à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, Machado, que manteve contato com Filinto Muller durante os procedimentos referentes à desapropriação do Jardim Liberdade, comentou sobre a suposta ambição do delator.
"O Filinto era e continua sendo uma pessoa muito ambiciosa, ele disse que seria o homem mais rico de Mato Grosso antes dos 40 anos. E parece que ele vai conseguir, porque dizem que agora ele é bicheiro também”, disse.
O jurista ainda garantiu ser inocente e afirmou que atuou nos limites da Lei, conforme suas atribuições. “Atuei nos limites da Constituição, das procurações que recebi. Não fiz nenhuma negociação com o Filinto. Tratei com ele sobre os pagamentos e as transferências. Tratei com ele, inicialmente, sobre o instrumento de cessão de crédito, que ele queria fazer com a Santorini. Na verdade, ele queria cheques, mas nem a Santorini nem os sócios dela tinham cheques. Então, ele fez um instrumento de cessão de créditos, da Santorini para ele”, explicou.
Machado negou que tenha sido beneficiado com dinheiro desviado dos cofres públicos. “Apenas recebi meu honorários contratuais, somente isso. E não recebi tudo, porque abri mão de 50% para ajudar meu cliente”.
Ele disse que acreditava que os recursos que iam para a SF Assessoria iriam direto para Filinto Muller e não sabia que os valores iam para a organização criminosa que administrava o Estado. "Para mim, era o Filinto o homem das negociações e das tratativas em Brasília, para resolver os problemas pendentes. A figura do Estado era óbvia, porque ele que deveria pagar a indenização”.
O advogado ainda disse que não desconfiou sobre possíveis irregularidades na venda da área que pertencia a Antônio Rodrigues Carvalho, quando o cliente comentou que teria que devolver metade do valor pago pela propriedade. "Não [desconfiei], porque ele estava com problemas muito maiores. As dívidas que ele tinha e estavam em execução na Justiça Federal correspondiam a, praticamente, três vezes o valor da indenização. Então, se alguém chegasse para ele e pedisse para entregar tudo, em troca de liquidar tudo o que ele devia, eu acredito que ele aceitaria também”.
“Acordo administrativo é perfeitamente legal, e também era necessário e justo, porque ele estava há 18 anos sofrendo com aquela situação. Ele quebrou. Ele tinha duas empresas, com quase mil empregados”, completou.
Ao ser questionado sobre a quantia que recebeu como honorários advocatícios, por conta da ação de desapropriação, o jurista esquivou-se. "Eu recebi os honorários que contratei com ele. Foi o combinado, a conta vocês fazem. Mas isso é sigilo profissional”, limitou-se a dizer.