O juiz Ricardo Frazon Menegucci, da Vara Única de Colniza, a 1.065 km de Cuiabá, marcou a primeira audiência de instrução sobre a chacina que resultou na morte de nove trabalhadores, no dia 19 de abril deste ano na gleba Taquaruçu do Norte, em Colniza. A audiência está prevista para ser realizada às 14h do dia 27 de novembro.
Segundo o magistrado, a audiência de instrução deve ouvir as testemunhas do caso, os peritos que atuaram no caso e, ao final, os réus serão interrogados.
Foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPE) e constam como réus no processo o empresário do ramo madeireiro Valdelir João de Souza, de 41 anos, apontado como mandante do crime, o ex-sargento da Polícia Militar de Rondônia Moisés Ferreira de Souza, Ronaldo Dalmoneck, Pedro Ramos Nogueira e Paulo Neves Nogueira – sendo esses dois últimos tio e sobrinho.
Ronaldo Dalmoneck teve o processo separado dos demais réus. O G1 não localizou os advogados dos citados. Em maio deste ano, eles foram denunciados por homicídio triplamente qualificado (mediante pagamento, tortura e emboscada). Testemunhas ou réus que estão em outras cidades ou estados devem ser ouvidos por meio de carta precatória.
Pedro e Paulo Neves ficaram presos preventivamente, enquanto Ronaldo teve a prisão preventiva decretada, mas não foi preso. Valdelir Souza teve a prisão temporária decretada e a defesa chegou a negociar a entrega às autoridades policiais, mas isso não ocorreu. Já o ex-policial é procurado por outro crime cometido em Rondônia e, por essa razão, não teve a prisão pedida pela polícia mato-grossense.
Segundo o processo, a Justiça não tem conhecimento da localização de nenhum dos réus citados.
Consta na denúncia que, no dia da chacina, Pedro, Paulo, Ronaldo e Moisés, a mando de Valdelir, teriam seguido até a Linha 15 - onde ocorreu a chacina - e, com o uso de armas de fogo e arma branca, executaram Francisco Chaves da Silva, 56, Edson Alves Antunes, 32, Izaul Brito dos Santos, 50, Aldo Aparecido Carlini, 50, Sebastião Ferreira de Souza, 57, Fábio Rodrigues dos Santos, 37, Samuel Antonio da Cunha, 23, Ezequias Santos de Oliveira, 26, e Valmir Rangel do Nascimento, de 55 anos.
Nove trabalhadores foram assassinados; local onde os corpos foram enterrados em Colniza (Foto: Reprodução/TVCA)
A motivação dos crimes seria a extração de recursos naturais da área. Com a morte das vítimas, a intenção do mandante era assustar os moradores e expulsá-los das terras, para que ele pudesse, futuramente, ocupá-las. No dia do atentado, os denunciados foram reconhecidos pelas testemunhas, conforme o MP.
Segundo o MP, o grupo de extermínio percorreu aproximadamente 9 km ao longo da Linha 15, assassinando, com requintes de crueldade, aqueles que encontraram pelo caminho, sem dar chance de fuga ou defesa.
A gleba Taquaruçu do Norte ocorreu é de difícil acesso e fica a aproximadamente 200 km de Colniza. A área onde ocorreu a chacina chegou a pertencer à Cooperativa Agrícola Mista de Produção Roosevelt após disputa judicial com o dono de uma fazenda. Mas, segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp-MT), parte da área de 42 mil hectares foi vendida irregularmente para outro fazendeiro e, depois que a cooperativa foi desfeita, uma nova associação foi formada.
A nova associação passou a reivindicar parte do território vendido, diz a Sesp-MT. Atualmente, 15 mil hectares são ocupados por trabalhadores rurais. Mais de 200 famílias viviam ali, mas a maioria foi embora depois da chacina.
Há 11 anos, outra chacina foi cometida na região de Taquaruçu do Norte. Naquela ocasião, cinco pessoas foram mortas e dez torturadas numa briga por terras. Os crimes foram investigados na operação Ouro Verde, da Polícia Civil, que em 2007 prendeu 39 pessoas, entre elas fazendeiros que atuariam na extração ilegal de madeira.