O chefe da coordenação técnica da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Aripuanã, a 976 km de Cuiabá, preso em uma operação nesse domingo (20) suspeito de envolvimento em garimpo ilegal, era responsável por avisar um cacique da região e garimpeiros sobre quando ocorreriam operações de fiscalização na terra indígena, conforme investigação feita pela Polícia Federal.
Em nota, a Funai disse que o chefe da coordenação técnica local foi afastado da função. "A Fundação esclarece que não coaduna com nenhum tipo de conduta ilícita e está à disposição das autoridades policiais para colaborar com as investigações".
Além do servidor, o cacique foi preso e um garimpeiro está foragido. Eles são suspeitos de envolvimento no esquema de extração de ouro.
De acordo com a polícia, o líder indígena recebia 20% do ouro tirado da Terra Aripuanã, da etnia Cinta Larga. Já o servidor da Funai trabalhava como 'agente duplo'.
A PF informou que o chefe de coordenação local da Funai utilizava a função pública para repassar, previamente, informações a alguns garimpeiros sobre a realização de operações de crimes ambientais realizadas por policiais federais e pelo Ibama. Para isso, ele também cobrava um valor, o qual ainda não foi identificado.
O proprietário de máquinas a quem foi transmitida a informação de que haveria operação policial dirigida aos garimpos, até o momento, encontra-se foragido.
As investigações, segundo a polícia, terão continuidade para identificar os indivíduos envolvidos nas demais práticas criminosas investigadas.
2ª operação contra lideranças indígenas
Essa é a segunda operação da Polícia Federal que envolve lideranças indígenas e servidores da Funai em menos de uma semana.
Na quinta-feira (17), o cacique Damião Paridzané foi preso, investigado pela Polícia Federal por suspeita de receber dinheiro em troca da concessão ilegal de áreas indígenas à fazendeiros para criação de gado.
O coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Ribeirão Cascalheira, Jussielson Gonçalves Silva, o sargento da Polícia Militar Gerrard Maxmiliano Rodrigues de Souza e o ex-policial militar do Amazonas, Enoque Bento de Souza, também foram presos na Operação Res Capta, deflagrada pela Polícia Federal, contra o arrendamento das terras indígenas para produtores rurais.
Um vídeo mostra coordenador da Funai e o sargento da PM negociando o arrendamento.
O cacique, que recebia pelo menos R$ 900 mil por mês com o suposto esquema, é um dos principais líderes citados e premiados na história da luta do povo Xavante para a reconquista da Terra Indígena Marãiwatsédé e expulsão de não indígenas da área.
Ele já foi homenageado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), durante o XI Seminário de Educação (Semiedu 2013), sendo reconhecido como ‘lutador’ dos povos indígenas, e logo depois, em Brasília, ele ganhou um reconhecimento na 20ª edição do Prêmio de Direitos Humanos, recebendo um troféu por “nunca ter negociado com fazendeiros e políticos, e sempre afirmar: ‘eu só preciso da terra”.