A retomada dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a possibilidade de que ele volte a ser candidato na eleição presidencial de 2022 afasta as expectativas de uma frente de centro para o próximo governo e deixa a disputa polarizada entre dois nomes cada vez mais distantes do comprometimento com reformas estruturais e com a responsabilidade fiscal: Lula e o atual presidente, Jair Bolsonaro.
É essa a leitura feita pela consultoria MB Associados e a sua explicação para o desespero que a mudança no jogo levou ao mercado financeiro. A reconfiguração das peças do tabuleiro, de acordo com a análise, traz uma bomba de incertezas e inseguranças aos investidores, e isso cria uma cascata que piora o câmbio, a inflação, os juros e a recuperação econômica.
O entendimento é que o dólar, que já vinha sendo puxado para cima por crises políticas internas e por uma expectativa de reconfiguração na economia dos Estados Unidos, deve subir ainda mais.
A projeção da consultoria é de que a moeda possa passar dos R$ 6 pela primeira vez na história nas próximas semanas. Para o final do ano, a expectativa, que era do dólar a R$ 5,40, subiu para R$ 5,60.
Nesta terça (9), o dólar voltou a subir e fechou valendo R$ 5,79.
“A pergunta que o mercado cada vez mais fará é que país sairá da eleição em 2022”, afirmou a MB Associados em relatório aos clientes, assinado por seu economista-chefe, Sérgio Vale.
“O próximo mandato promete ser dirigido por alguém não muito afeito às reformas necessárias, seja Lula, seja Bolsonaro. (…) Até lá, o mercado não vai pagar para ver o que isso significa. A consequência já aparece nos números e, por isso, já começamos a revisar alguns.”
Além da mudança de expectativa para o câmbio, a MB associados também elevou a projeção de inflação e de juros para 2021. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), pela nova estimativa, deve chegar a 4,3% neste ano, ante os 4% da projeção anterior.
Já a Selic, a taxa básica de juros do país, pode ir a 5,5%, em vez dos 4% esperados anteriormente. Como juros mais altos inibem o crescimento econômico, o PIB também deve ficar pior: a MB cortou a projeção para o ano, de alta de 2,4% para alta de 2%.
“Tudo isso vale mesmo que apareça algum candidato que possa fazer frente a Lula e Bolsonaro”, diz o relatório. “Apenas o risco de dois candidatos fortes como esses e com suas posições em economia cada vez mais claras, o mercado não vai esperar para ver se o jogo político se equilibra.”