Eletricista há 20 anos, o profissional que prefere não ser identificado, procurou a reportagem nesta quinta-feira, 17 de outubro, dia em que se comemora o dia do eletricista, para denunciar um suposto esquema da Energisa, que estaria trocando medidores (relógio) de energia sem que ao menos os consumidores soubessem, e que isto estaria provocando o aumento abusivo nas contas de energia. “Nós que somos profissionais, dependemos da própria energia para nosso sustento, mas eu me vi na obrigação de procurar a reportagem, porque também estou sentindo na pele, estou tendo problemas com meus clientes”, explicou.
Segundo o denunciante, o problema foi detectado ao fazer um simples reparo na residência de um cliente. “Coloquei um padrão 220 na residência da pessoa, e o cliente ainda nem contratou o serviço de ar condicionado, só simplesmente trocou o padrão. A energia que vinha 70 quilowatt-hora (kWh), por exemplo, dobrou só com a troca do medidor, e o cliente me liga perguntando; o que você fez aqui na minha casa? Em outro local, apenas troquei um padrão que estava trincado, e a Energisa não usou o mesmo medidor, foi trocado. Cliente também reclamou quando chegou a fatura. Então a gente que é profissional está sendo taxado como se estivesse fazendo às coisas erradas. O que dá de entender é o seguinte, esses medidores novos que estão trocando, é que estão sendo alterados”, afirmou.
Uma fatura que estaria com consumo alterado foi entregue a reportagem, nela é possível ver que em novembro de 2018, o consumo na residência foi de 401 kWh, enquanto em outubro de 2019, subiu para 583 kWh, em valores, a conta do ano passado custou R$494,24, um ano depois subiu para R$601,90. “É importante que o consumidor olhe o consumo em kWh, porque a energia pode ter alteração de valores”, detalhou.
Além da reclamação dos clientes, o próprio eletricista contou que também teve problemas em casa. “Eu gastava em torno de 70 a 80 kWh/mês, depois que trocou o medidor, minha energia pulou pra 170 a 200 kWh/mês, sem instalar ou alterar nada em casa. Depois que reclamei a Energisa retirou o medidor, e mandou para perícia, o problema é que ninguém acompanha essa perícia deles, tinha que ter transparência. Resultado; tive que ir na empresa e parcelar o débito e pagar sem reclamar nada. Quem garante que essas aferições estão sendo feitas corretamente? Tenho certeza que tem coisa errada, porque é notório o que está acontecendo”, criticou.
Nas redes sociais, a reclamação do aumento de energia nos últimos meses é quase unanimidade. “Em 20 anos de profissão nunca tinha visto algo parecido como esse problema. Oriento os consumidores que tiveram aumento absurdo na conta de energia, que procure contas antigas e atuais e verifique se o número do medidor é o mesmo”, finalizou o eletricista.
À reportagem procurou a assessoria de imprensa da Energisa, mas até o fechamento desta matéria não havia obtido resposta sobre os questionamentos do eletricista. A assessoria enviou informações justificando o aumento nas faturas de energia nos meses de setembro e outubro.
Segundo a empresa, o calor e a falta de umidade que atinge Mato Grosso nesse período do ano estão diretamente ligados com o aumento do consumo de energia elétrica. Dados da Energisa mostram que essa variação é histórica – nos últimos anos, as famílias mato-grossenses consumiram, em média, 19% mais energia por mês em setembro e outubro do que entre janeiro e agosto. Essa mudança no consumo ocorre porque nesse período os mato-grossenses precisam usar mais equipamentos para manter o ambiente mais fresco e com mais umidade.
Somada a isso, está a forma como os eletrodomésticos consomem a energia elétrica nos dias mais quentes. Um ar-condicionado que estava ligado seis horas nos outros meses, por exemplo, usará mais energia para deixar o ambiente fresco nos dias mais quentes mesmo que utilizado pelo mesmo período de tempo. Ou seja, mesmo que o hábito de consumo não mude, é possível que haja um aumento na conta de energia, por conta das altas temperaturas.
“Não podemos imaginar que nossos eletrodomésticos que precisam de climatização, como geladeira e ar-condicionado, estão trabalhando da mesma forma que nos dias com temperaturas mais amenas. Com as temperaturas altas, esses equipamentos trabalham muito mais, ou seja, gastando mais energia para manter o mesmo funcionamento que nos outros meses, sem falar nos inúmeros umidificadores de ar ligados em todos os ambientes”, explica o diretor-presidente da Energisa Mato Grosso, Riberto José Barbanera.
Há ainda um outro fator que impacta no valor das faturas que começam a chegar neste mês: por causa das baixas nos reservatórios das usinas, a bandeira tarifária de setembro é vermelha patamar 1. “Nesse período o que a Energisa recomenda é que nossos clientes economizem no uso da energia. Sabemos que não é possível ficar sem a energia, mas podemos usá-la de maneira consciente, e assim manter o consumo mais baixo”, pondera Riberto.
O debate dos serviços ofertados pela Energisa chegou a Assembleia Legislativa de Mato Grosso. O presidente da Casa de Leis Eduardo Botelho (DEM) disse que os dados apresentados pela Energisa, durante audiência pública realizada nesta terça-feira (15), não “convenceram”.
Por conta disso, o parlamentar defendeu a continuidade da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará os serviços prestados pela concessionária.
“Foi uma explanação técnica, mas deixou muito a desejar. Ele mostrou apenas números vantajosos para eles, o que não é verdade. Mostrando até que existe satisfação de clientes de Mato Grosso, quando a gente sabe que não existe", disse Botelho logo após o fim do encontro.
"Não convenceu ninguém. A gente vai continuar com a CPI e espero que dê resultado”, acrescentou.
A apresentação foi feita pelo diretor-presidente da Concessionária , Riberto José Barbanera. Durante a explanação, ele admitiu falhas na prestação de serviço, mas afirmou que elas estão sendo sanadas ao longo dos anos.
Ele mostrou apenas números vantajosos para eles, o que não é verdade. Mostrando até que existe satisfação de clientes de Mato Grosso, quando a gente sabe que não existe
Em um dos pontos, disse que apesar de ser o setor com maior índice de reclamação no Procon Estadual, o número representa 0,1% do atendimento que a empresa realiza.
Outro ponto levantado é de que atualmente 309 mil clientes não são atendidos com a qualidade de fornecimento elétrico que a regulamentação da Aneel exige. No entanto, segundo Barbanera, em 2013, quando a Energisa se instalou no Estado, o número chegava a 569 mil.
Entretanto, para Botelho há mais pontos negativos na prestação dos serviços. “Eles tiraram o call center daqui e diminuíram 300 postos de emprego. Eles tiraram a parte gerencial, de engenharia. Isso não existe mais aqui. Se você quer fazer um projeto aqui, eles fazem pelo Google lá em São Paulo. Aqui não, aqui não se faz mais nada”, enumerou.
“E, para complicar, judiam mais do povo mato-grossense trazendo empresas terceirizadas de fora e reduzindo salários aqui. Antes, era em torno de R$ 1,9 mil para os eletricistas, agora estão abaixando para R$ 1,3 mil. Então, realmente é exploração em cima do povo mato-grossense”, afirmou.
Rompimento
A possibilidade de rompimento de contrato com a concessionária no Estado vem sendo levantada desde a abertura da CPI. Segundo Botelho, a intenção da CPI é que haja uma melhora no serviço prestado e até uma revisão tarifaria.
“Defender só a suspensão da Energisa é muito complicado. Teria que ter alguém para assumir. O mercado, hoje, funciona muito em função de uma empresa que não entra na área da outra. É um mercado de monopólio”, disse.
“O que defendo é que façamos pressão para que haja um trabalho melhor e que mude os índices”, completou.
Durante a audiência pública, o Procon-MT expôs as demandas dos consumidores mato-grossenses relativas à energia elétrica e cobrou da concessionária melhorias na prestação de serviços. Para o órgão, é urgente reduzir as leituras por média, as cobranças de valores não recebidos por leitura incorreta por parte da empresa e os acúmulos de cobrança sem justificativa.
De janeiro de 2018 a setembro de 2019 (21 meses), o Procon-MT registrou 10.615 reclamações referentes à energia elétrica. Praticamente 83% dessas reclamações se referem à cobrança indevida/abusiva, resultado da falta de leituras efetivas nas unidades consumidoras. Sequências de meses faturados por média resultam em acúmulo de consumo, que depois são cobrados em uma única fatura, explicou a secretária adjunta do Procon-MT, Gisela Simona.
Acrescenta-se a esse montante o ICMS correspondente ao consumo do mês. Em Mato Grosso o ICMS é escalonado, ou seja, quanto mais quilowatts-hora maior é a alíquota de imposto. Assim, conforme Gisela, se há acúmulo de cobrança na fatura a alíquota de ICMS muda de faixa. Além disso, há o custo da bandeira tarifária, que é acrescida a cada 100 quilowatts-hora.
Pela plataforma consumidor.gov.br, à qual concessionária de energia de Mato Grosso aderiu em setembro de 2019, foram 101 reclamações no primeiro mês de adesão. Também foram apresentados na audiência o balanço dos atendimentos e conciliações realizadas pela instituição; as demandas registradas nas audiências públicas de Cláudia e Nortelândia, em 2019, e aquelas repassadas pelos Procons municipais; e o balanço de reuniões com a própria Energisa.
Além de cobrar mais qualidade na prestação de serviço, a secretária adjunta sugeriu mudanças na regulamentação do setor elétrico e no contrato de concessão. Para o órgão de defesa do consumidor do Estado, é preciso repensar a atual resolução que regula o setor elétrico (nº 414/2010/Aneel), de forma a restringir as possibilidades de leituras por média e os acúmulos de cobrança, e revogar a possibilidade de cobrança de valores não recebidos por leitura incorreta por parte da concessionária.
“Tais práticas sobrecarregam os consumidores, pois geram acúmulo de consumo, e desequilibram a relação entre fornecedor e consumidor. Nenhum risco é arcado pela concessionária, tudo é repassado ao consumidor, que vem pagando caro pela energia sem que isso signifique melhoria na qualidade do serviço”, frisou a secretária adjunta do Procon-MT, Gisela Simona.
A partir de agora, consumidores podem registrar reclamações relacionadas à empresa de forma online, sem sair de casa. O índice de resolução de conflitos via plataforma é superior a 80%, conforme dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
O sistema não interfere na atuação do Procon-MT e dos Procons municipais, que continuam com o serviço de registro de reclamações presencial. O www.consumidor.gov.br é uma opção a mais para o cidadão e uma facilidade, já que é possível registrar a reclamação a qualquer hora do dia.
Disponível aos brasileiros desde junho de 2014, o consumidor.gov.br proporciona a interlocução direta, rápida e sem burocracia entre consumidores e fornecedores. São cerca de 500 empresas cadastradas e 1,2 milhão de usuários registrados, conforme dados Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em 2018 foram 609.644 mil reclamações pela plataforma em todo país. O tempo médio de resposta foi de 6,5 dias e o índice de resolução chegou a 81%.
Para a secretária adjunta do Procon-MT, Gisela Simona, a inclusão da Energisa no consumidor.gov.br é um marco, porque cidadãos dos 141 municípios de Mato Grosso poderão fazer reclamação dos serviços relativos à concessionária, uma vez que não existe ainda Procon em todas as cidades, nem Poder Judiciário em algumas localidades.
“Teremos também mais transparência no tratamento das demandas pela empresa, acompanhadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o que é uma grande conquista para o consumidor. Lembrando ainda que a Energisa é a empresa mais demandada em Mato Grosso e, consequentemente, aquela que a população mais procura para buscar seus direitos”.
Pelo Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec), que corresponde ao atendimento presencial, a área "Serviços Essenciais” é a mais reclamada pela população, sendo que o assunto “Energia Elétrica” apresenta o maior número de registros. Agosto de 2019 fechou com 481 reclamações referentes ao fornecimento de energia.
Veja o que é possível fazer nesse período para usar a energia de forma eficiente e econômica:
- Ar-condicionado: os filtros devem ser lavados no mínimo uma vez por semana, bem como manutenções regulares. Portas e janelas devem estar sempre fechadas quando o ar estiver ligado.
- Ventiladores: quanto maior a pá, maior o consumo. Portanto, os ventiladores menores tendem a gastar menos. Outro ponto importante: o ventilador refresca porque movimenta o ar, mas ele não reduz a temperatura do ambiente. Por isso, só deve permanecer ligado quando alguém estiver usando. Deixar o ventilador ligado com antecedência para tentar refrescar um ambiente só serve para desperdiçar energia.
- Geladeiras e freezers: devem ficar, preferencialmente, o mais longe possível do fogão, fornos e outras fontes de calor. A borracha de vedação da porta precisa estar em boas condições, para o ar frio não escapar. As prateleiras devem ficar sem forros e é necessário evitar o abre e fecha. Avalie se o uso do freezer é realmente necessário neste período.
- Iluminação: quanto mais luz natural, melhor. Lâmpadas fluorescentes ou LED são as mais econômicas.
Aparelhos em stand-by: é mais econômico desligar aparelhos direto nos botões ou nas tomadas, e não apenas pelo controle remoto. Em geral, luzes indicativas acessas significam desperdício de energia. O mesmo vale para relógios que ficam piscando. Mas atenção! A geladeira deve ficar sempre ligada na tomada. O hábito de desligar a geladeira à noite pode provocar perda de alimentos e não gera economia de energia, pois o aparelho consome muito para recuperar as baixas temperaturas de manhã.
- Ferro de passar roupa: quanto mais roupa acumulada, melhor. Peças grandes, como lençóis e toalhas, podem ser esticadas por baixo das demais na hora de passar. Tente estender as roupas para secar de forma que não formem dobras. Ao retirar do varal, o ideal é dobrar peça por peça, para que não amassem. Com isso, o trabalho de passar será muito mais fácil, rápido e econômico.
- Chuveiro: priorize a posição “Verão”.
O site www.energisa.com.br tem outras dicas de economia e também um simulador de consumo que permite estimar o custo em reais de cada equipamento, dependendo da potência e do período utilizada.