Ao menos 10 servidores demitidos recentemente pela Cooperativa de Trabalho Vale do Teles Pires (Coopervale) que tem sede em Sorriso, foram à Câmara de Vereadores de Juína para cobrar explicações e afastamento do vereador Saulo Evangelista (MDB).
A polêmica começou quando Saulo, durante uma “briga” interna pela disputa de uma vaga na mesa diretora, gravou um áudio com desabafo e ameaças, e enviou a um colega vereador. O áudio vazou em grupos do WhatsApp e rapidamente chegou ao Ministério Público Estadual (MPE). Entre às ameaças, estava a Coopervale, cooperativa contratada pela prefeitura de Juína em 2017.
Transcrição do áudio:
“Quando vocês precisaram de um partido pra apoiar o Altir [prefeito] eu segurei às pontas e agora vocês não chamaram eu nem pra conversar... mas vocês preferiram isolar eu, então vocês vão ver, vocês colocaram eu na oposição e agora vai ter oposição ferrenha, vou denunciar tudo, na Câmara e na Prefeitura, principalmente aquela cooperativa [Coopervale] que o seu João Reis que contrata os funcionários. Isso não pode”, relatou.
Essas declarações ‘derrubaram’ o então secretário de infraestrutura (SINFRA) João dos Reis que se obrigou a pedir demissão com o início das investigações do promotor de justiça Marcelo Linhares que recebeu a denúncia feita por um cidadão, e Saulo foi convocado a dar explicações.
O MPE confirmou através de uma pasta de documentos apreendida na SINFRA, que João dos Reis indicava o funcionário a ser contratado, e até o salário que este deveria receber. Perante ao promotor, Reis reconheceu a falha, que agiu sozinho e aceitou pagar uma multa de R$ 8.791,00 (uma remuneração de secretário), além de ficar impedido de ser contratado pela prefeitura no prazo de 5 anos.
O promotor aplicou à Coopervale uma multa de R$ 70 mil e determinou a demissão de todos os servidores indicados pelo gestor da SINFRA. Esta foi a razão da manifestação de hoje na Câmara de Vereadores, especialmente contra o vereador Saulo Evangelista.
“É muito errado o que o Saulo fez, ele não pensou na gente, de uma hora para outra, ser mandado embora, nunca esperava isso”, lamentou Eliara Ferreira que trabalhava na cooperativa há quase dois anos.
“Eles não estão nem aí pensando na gente, o que eles pensam é o seguinte: eles têm o salário deles e ganham muito bem pra isso, e que a gente se vira, essa foi a realidade que ele [Saulo] passou pra nós”, comentou Valdemar Silva, também demitido.
Procurado pela reportagem Saulo Evangelista se explicou. “Existem algumas pessoas manipulando a cabeça desses funcionários que foram dispensados pela Coopervale, o erro não é do vereador, não é da Câmara, o erro foi administrativo entre prefeitura e a cooperativa, então o erro é deles. Tem pessoas maldosas em Juína que estão procurando esses funcionários para fazer protesto contra a minha pessoa. Eu estou consciente do que eu fiz e ando de cabeça erguida”.
Nos bastidores da Câmara, a informação que o Conselho de Ética deve abrir um procedimento para apurar se houve quebra de decoro por parte do vereador, se isso realmente se confirmar, o parlamentar poderá até ser afastado.