Cerca de 50 indígenas, a maioria adolescentes, realizaram um
protesto nesta sexta-feira (04) no centro de Brasnorte, em frente ao Fórum da
cidade. A manifestação teve como objetivo cobrar “respeito à democracia” após a
Justiça Eleitoral cassar os diplomas do prefeito Edelo Marcelo Ferrari (União
Brasil), da vice-prefeita Roseli Borges de Araújo Gonçalves e do vereador
Gilmar Celso Gonçalves.
Carregando cartazes com frases como “Indígenas também são
seres humanos”, “Respeitem a democracia”, “Indígena não é vendido” e “Também
temos o direito de votar”, o grupo criticou duramente a decisão do juiz Romeu
da Cunha Gomes e a atuação do Ministério Público Eleitoral.
Durante o ato, uma das lideranças indígenas afirmou:
“Prefeito Edelo Ferrari, cacique branco do coração do povo indígena, sempre
ajudou e nós o apoiamos.”
A reportagem apurou que o juiz Romeu da Cunha Gomes, deve
receber os indígenas na próxima semana para uma reunião.
Ação por
irregularidades eleitorais
A decisão judicial decorre de uma Ação de Investigação
Judicial Eleitoral (AIJE) ajuizada pelo Ministério Público Eleitoral. A
investigação apurou graves irregularidades cometidas nas eleições de 2024, especialmente
envolvendo comunidades indígenas. Entre as práticas apontadas, estão:
Transporte irregular de eleitores com uso de dois ônibus
enviados às aldeias na véspera da eleição;
Aliciamento para transferência de domicílio eleitoral;
Compra de votos com dinheiro, combustível e até frangos
congelados.
Segundo a denúncia, os atos beneficiaram diretamente a chapa
majoritária e o vereador Gilmar Celso. Em algumas seções eleitorais localizadas
em áreas indígenas, como a de número 108, Gilmar obteve 79 votos — cerca de 15%
do total que recebeu em toda a eleição. A chapa do prefeito e da vice também
teve votações expressivas nessas regiões.
Embora o juiz tenha reconhecido que não há provas diretas de
participação de Edelo e Roseli nas irregularidades, entendeu que ambos foram
beneficiados de forma decisiva pelo esquema, o que comprometeu a lisura do
pleito.
Condenações e medidas
determinadas
Além da cassação dos diplomas e nulidade dos votos dos
condenados, a sentença inclui:
Inelegibilidade por 8 anos para Gilmar Celso, Rogério
Gonçalves, João Gomes da Silva Júnior, Alexandre Augusto Gonçalves e Junior
Augusto Gonçalves;
Multa de R$ 53.205,00 para Rogério e Gilmar;
Retotalização imediata dos votos para o cargo de vereador;
Comunicação oficial à Câmara Municipal e à Prefeitura;
Convocação de novas eleições para prefeito e vice-prefeito
após confirmação da sentença em instância superior;
Encaminhamento ao Ministério Público para apuração de
possíveis crimes eleitorais.
Manifestação do
prefeito
Após a divulgação da decisão, o prefeito Edelo Ferrari se
manifestou por meio de um vídeo nas redes sociais. Ele disse ter recebido a
notícia com surpresa:
“Até mesmo porque o próprio juiz deixou claro que não existe
qualquer tipo de prova que me ligue, ou à Professora Rose, à acusação feita
pelo Ministério Público.”
Ferrari garantiu que vai recorrer da decisão ao Tribunal
Regional Eleitoral (TRE) e afirmou estar confiante na reversão da sentença:
“Estou muito tranquilo. Vamos recorrer ao TRE, onde tenho
convicção de que a análise será feita de forma técnica, com embasamento
jurídico que comprovará a nossa inocência.”
O prefeito também agradeceu o apoio da população e reafirmou
seu compromisso com a gestão municipal:
“Seguimos firmes, trabalhando por Brasnorte.”
Nesta sexta-feira, ele voltou a publicar em suas redes
sociais com a frase:
“Sextou e ’nóis’ tá como? Trabalhando.”
A sentença ainda cabe recurso. Caso seja mantida por
instância superior, o município deverá realizar novas eleições para prefeito e
vice-prefeito.