O papa Francisco morreu nesta segunda-feira (21), em Roma,
às 07h35 (2h35 de Brasília). Francisco foi hospitalizado no dia 14 de
fevereiro, inicialmente por uma bronquite, mas depois recebeu o diagnóstico de
pneumonia bilateral. Ele passou quase 40 dias internado, e no domingo (20),
apareceu de surpresa na Praça São Pedro. “O Bispo de Roma, Francisco, retornou
à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua
Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem
e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com
imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus,
recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus
Trino”, diz comunicado oficial do Vaticano.
Até o momento, o Vaticano não deu detalhes sobre o funeral
do papa Francisco. A Igreja Católica deve se reunir nas próximas semanas para
decidir quem será o novo papa.
A saúde de Francisco, debilitada desde a infância, gerava
preocupações desde 2021, quando ficou 10 dias internado por causa de uma
operação no intestino grosso, que, segundo ele, deixou sequelas e fez com que
descartasse uma operação no joelho direito. Ele tinha osteoartrite, também
chamada de artrose. Por não se submeter a uma nova cirurgia, por recomendações
de seus médicos, desde 2022 ele era visto caminhando com ajuda de bengalas ou
usando uma cadeira de rodas, porque estava com dificuldade de andar, o que fez
com que ele precisasse cancelar alguns compromissos.
Em junho de 2023, Francisco precisou se submeter a uma
cirurgia de urgência de hérnia abdominal, devido a uma hérnia pós-operatória
com síndrome de obstrução do intestino que causava dores e muitas vezes também
síndrome sub-oclusiva. O agravamento de seus problemas de saúde, fez o
argentino declarar que podia renunciar ao cargo – ele até chegou a deixar uma
carta assinada – caso ficasse impossibilitado de desempenhar suas funções e não
tivesse mais condições de fazer seu trabalho.
“É verdade que escrevi a minha renúncia dois meses depois de
minha eleição (em março de 2013)… Eu fiz isso para o caso de ter algum problema
de saúde que me impeça de exercer meu ministério”, revelou Francisco, embora
depois tenha esclarecido que ainda não havia pensado em renunciar ao cargo.
Em julho de 2022, Francisco confessou que “já não podia
viajar” com o mesmo ritmo de antes e inclusive mencionou que poderia se
afastar. Em fevereiro de 2023, apesar de levantar a ideia que abriria mão do
cargo caso fosse necessário, ele afirmou que a renúncia de um papa “não deve
virar moda” e que essa ideia “no momento não estava em sua agenda” – se ele
deixasse a posição de chefe da igreja católica, ele seria o segundo papa
consecutivo a tomar essa decisão. Francisco revelou que desde 2022 contava com
um “assistente pessoal de saúde”, uma enfermeira, que o acompanha de forma
permanente. A saúde dos papas tem sido sempre uma “matéria reservada” para o
Vaticano e mantida geralmente em segredo.
O médico e jornalista argentino Nelson Castro apresentou
recentemente em Roma um livro sobre a saúde dos papas e as doenças sofridas por
eles desde Leão XIII e falou em particular sobre o tema com Francisco. Ele
afirmou a Castro que havia se “recuperado por completo” e que “não havia se
sentido limitado desde então”. Aos 21 anos, o pontífice quase morreu de
pleurisia, segundo seu biógrafo Austen Ivereigh, e, por isso tiveram que
retirar alguns cistos de seu pulmão em 1957. Francisco relembrou o episódio e
confessou que entendia como se sentiam as pessoas que contraíam o coronavírus.
“Eles têm que lutar para respirar através de respiradores
artificiais”, enfatizou. Seus problemas de saúde enquanto ainda era arcebispo
de Buenos Aires o fizeram ir a um acupunturista chinês para tratar as dores nas
costas, contou seu biógrafo ao jornal The Tablet Catholic. Além disso, ele
também sofria de “cálculos na vesícula biliar” e, em 2004, teve um problema
cardíaco “temporário” devido a um ligeiro estreitamento de uma artéria.
Já seus problemas hepáticos foram resolvidos com uma mudança
na dieta. O pontífice também revelou que precisou recorrer o apoio psicológico,
com consultas uma vez por semana durante seis meses para lidar com sua
ansiedade. Posteriormente contou que ele trata a condição ouvindo o pianista Bach
ou tomando mate, bebida típica da Argentina.
Saiba mais sobre
Francisco
Nascido em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires,
Argentina, Jorge Mario Bergoglio se tornou papa em 13 de março de 2013 e desde
o começo mostrou seu desejo de ruptura, ao aparecer na varanda da basílica de
São Pedro sem nenhum ornamento litúrgico. O ex-arcebispo de Buenos Aires, que
nunca fez carreira nos corredores de Roma, queria “pastores com cheiro de
ovelha” para devolver o dinamismo a uma Igreja cada vez menos presente e superada
em muitas regiões pela vitalidade dos cultos evangélicos.
Ele levou novos ares a Roma. Optou por viver em um
apartamento sóbrio, rejeitando o suntuoso Palácio Apostólico, e frequentemente
convidava à sua mesa moradores em situação de rua ou presidiários. Durante seu
tempo à frente da Igreja Católica, ele sugeriu a possibilidade de que os padres
abençoem casais do mesmo sexo, mas enfatizou que a benção seria decidida caso a
caso e alertou para que não fosse confundido com cerimônias de casamento de casais
heterossexuais.
Até seu último dia como papa, ele seguiu mobilizando os
fiéis no exterior. Durante seus anos como chefe da Igreja Católica, ele
enfrentou os escândalos de abusos sexuais de menores de idade por religiosos,
abolindo o “sigilo pontifício”, que era utilizado por autoridades eclesiásticas
para não comunicar tais atos. Um gesto importante, mas insuficiente para as
associações de vítimas.
Francisco também se posicionou sobre a atual política
internacional, denunciou a situação na Ucrânia desde o início da guerra, se
oferecendo como um grande mediador, e, recentemente, começou um conflito com a
Nicarágua, ao criticar seus excessos autoritários e os ataques contra a Igreja
após a condenação do bispo nicaraguense Rolando Álvarez a 26 anos e 4 meses de
prisão.
Francisco foi líder dos jesuítas durante a brutal ditadura
argentina dos anos 1970. Durante a comemoração de 10 anos de papado, o
pontífice declarou que nunca imaginou “liderar a Igreja na 3ª Guerra Mundial”,
se referindo ao conflito entre Rússia e Ucrânia que acontece desde o dia 24 de
fevereiro de 2022. “Não esperava. Achei que a Síria ia ser única, aí vieram as
outras. Sofro ao ver jovens morrendo, sejam eles russos ou ucranianos, não me
importa, não voltando. É difícil”, disse o pontífice, acrescentando que
precisamos de paz. Questionado sobre seu tempo como chefe da igreja católica,
ele afirmou que viveu sob tensão.
“O tempo voa… está com pressa. Quando você quer agarrar o
hoje, já é ontem. Viver assim é algo novo. Esses dez anos foram assim: vivendo
em tensão”. Francisco foi o primeiro latino-americano a ser papa e teve seu
papado marcado por sua popularidade entre os fiéis e pela resistência feroz
dentro da Igreja Católica a seu projeto de reformas, mesmo que estas não questionem
os pilares doutrinários.
Em dezembro de 2023, Francisco revelou em entrevista à
imprensa mexicana que não queria se enterrado no Vaticano, seu desejo que o
sepultamento fosse na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma. “O local já
está preparado. Quero ser sepultado em Santa Maria Maggiore”, na época,
revelando que ele já tinha preparado os detalhes do seu enterro e que
simplificou o ito, que é particularmente longo.
Jorge Bergoglio, que frequentava este templo aos domingos
antes da sua eleição em 2013, afirmou que sente uma “ligação muito grande” com
esta basílica situada no centro da capital italiana, onde repousam sete papas,
segundo o ‘Vatican News’. O jesuíta argentino tinha o costume de rezar neste
local antes e depois de cada viagem ao exterior.